16:45, 30 de junho de 2020, para produtores orgânicos, profissionais de alimentos e empreendedores da área.
A produção e o consumo de produtos orgânicos é uma realidade recente no mercado global, tendo uma grande taxa de crescimento. Entre os anos de 1999 a 2009, houve um crescimento de 26,2 milhões de hectares destinados à agricultura orgânica no mundo, representando um aumento de aproximadamente 238% (IFOAM, 2011). Este aumento na procura se deve, principalmente, pela busca de uma melhor qualidade de vida por meio do consumo de alimentos considerados como mais saudáveis.
A agricultura orgânica busca o equilíbrio e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente, fauna, flora e ser humano, onde todos possam interagir com respeito. Alimentos orgânicos são aqueles cultivados sem insumos químicos, respeitando o meio ambiente e as relações sociais. É possível encontrar verduras, legumes, frutas, óleos, carnes, ovos e até cervejas e vinhos orgânicos. Segundo o Instituto Biodinâmico (IBD), uma das instituições que certificam esses alimentos no Brasil, o mercado brasileiro desse tipo de alimento teve
taxas de crescimento de 30% a 50% ao ano e já tem-se a segunda maior área de agricultura orgânica do mundo. Como a produção orgânica objetiva a realização de processos produtivos em equilíbrio com o ambiente, no cultivo estão proibidos agrotóxicos sintéticos, adubos químicos e sementes transgênicas. Os animais são criados sem uso de hormônios de crescimento, anabolizantes ou antibióticos, e de rações comerciais. As normas de certificação são rígidas. A produção deve obedecer a princípios rigorosos de manejo do solo, dos animais, da água e das plantas, buscando promover a saúde do homem, a preservação de recursos naturais e a oferta de condições adequadas de trabalho aos empregados (UNICAMP, 2007).
A durabilidade desses alimentos frente aos convencionais é menor, levando a uma menor vida de prateleira. A vida de prateleira de um produto alimentício é o período de tempo decorrido entre sua produção ou manipulação e àquele em que o produto conserva suas características de qualidade próprias para o consumo. Durante esse período o produto se caracteriza pelo nível satisfatório de qualidade.
A vida de prateleira varia com o tipo de alimento, temperatura de estocagem e embalagem utilizada. Devem ser observados alguns danos que interferem no tempo de armazenagem dos alimentos, tais como: contaminação microbiana, contaminação por insetos e roedores, oxidação, hidrólise e reversão em gorduras, oxidação de pigmentos, reações de escurecimento não enzimático, alterações devido ao ganho de umidade, atividade enzimática, perda de valor nutritivo, interações com os recipientes e perda da qualidade estética (CABRAL; FERNANDES, 1980.).
Para a conservação de frutas, legumes e hortaliças orgânicas comumente é utilizado, embalagens com atmosfera modifica ou armazenamento á vácuo. Todavia, esses métodos produzem resíduos plásticos que não são retornáveis impactando na cadeia sustentável do ciclo orgânico. Porém se houvesse uma cobertura orgânica, biodegradável e comestível para conservação desses alimentos o ciclo poderia ser fechado.
O uso de filmes e coberturas comestíveis em produtos alimentícios parece uma técnica recente, no entanto, a aplicação de ceras em frutas cítricas vem sendo utilizada desde os séculos XII e XIII na China, para retardar a desidratação e melhorar a aparência das mesmas (DEBEAUFORT et al, 1998). Existe um grande interesse no desenvolvimento de biofilmes comestíveis ou degradáveis biologicamente, principalmente devido à demanda por alimentos de alta qualidade, preocupações ambientais sobre o descarte de materiais não renováveis (utilizados como embalagem para alimentos) e oportunidades para criar novos mercados de matérias-primas formadoras de filme, como hidrocolóides e lipídios (PALMU, 2003). Os filmes e coberturas possuem a função de inibir ou reduzir a migração de umidade, oxigênio, dióxido de carbono, lipídios, aromas, dentre outros, pois promovem barreiras semipermeáveis. Além disso, podem transportar ingredientes alimentícios como: antioxidantes, antimicrobianos e flavorizantes, e/ou melhorar a integridade mecânica ou as características de manuseio do alimento (KROCHTA, 1997).
Em relação à nomenclatura, a maioria dos pesquisadores usa os termos “filme” e “cobertura” indiscriminadamente. No entanto, a cobertura é uma fina camada de material aplicado e formado diretamente na superfície do produto, enquanto que o filme é pré-formado separadamente e aplicado posteriormente sobre o produto (GONTARD; GUILBERT, 1995).
Podem ser classificados em comestíveis e/ou biodegradáveis, dependendo dos constituintes utilizados para sua produção e da quantidade das substâncias empregadas. Os biopolímeros mais utilizados na elaboração de filmes e coberturas comestíveis são as proteínas (gelatina, caseína, ovoalbumina, glúten de trigo e proteínas miofibrilares), os polissacarídeos (amido e seus derivados, pectina, celulose e seus derivados, alginato e carragena) e os lipídios (monoglicerídeos acetilados, ácido esteárico, ceras e ésteres de ácido graxo) ou a combinação dos mesmos (GONTARD; GUILBERT, 1995).
A utilização de filmes e coberturas comestíveis está relacionada com sua capacidade de agir como um adjunto para promover maior qualidade, estendendo a vida de prateleira e possibilitando a economia com materiais de embalagem final. (KESTER; FENNEMA, 1986.)
Autor: Lorena Coimbra
Fundadora da Foodtech Consultoria
Mestranda em Ciências e Tecnologia de Alimentos pela IFRJ
Engenheira de Alimentos pela UFRRJ
Atua na área de inovação de alimentos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRAL, A.C.D.; FERNANDES, M.H.C. Aspectos Gerais sobre a Vida de Prateleira de Produtos alimentícios. Boletim do Ital, Campinas, v. 17, n. 4, p. 371-439, out./dez., 1980.
DEBEAUFORT, F.; QUEZADA-GALLO, J. A.; VOILLEY A. Edible films and coatings: tomorrow’s packagings: a review. Crit. Rev. Food Sci., v. 38, n. 4, p. 299-313, 1998.
GONTARD, N.; GUILBERT, S. Prolongation of the shelf-life of perishable food products using biodegradable films and coatings. Lebensm. Wiss. Technol., v. 29, n. 1-2, p. 10-17; 111-142, 1995.
INTERNATIONAL FEDERATION OF ORGANIC AGRICULTURE MOVEMENTS – IFOAM. The world of organic agriculture 2011. Graphs and maps. Disponível em: https://www.ifoam.bio/. Acessado em 05 de dezembro de 2018.
KESTER, J. J.; FENNEMA, O. R. Edible films and coatings: a review. Food Technol., v. 40, n. 4, p. 47-59, 1986.
KROCHTA, J. M.; MULDER-JOHNSTON, C. Edible and biodegradable polymer films: challenges and opportunities. Food Technol., v. 51, n. 2, p. 61-74, 1997
PALMU, P. S. T. Preparação, propriedades e aplicação de biofilmes comestíveis à base de glúten de trigo. Campinas, 2003, 244 p. Tese (Doutorado em Alimentos e Nutrição), Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINAS. Alimentos do Futuro: Orgânicos, Funcionais e Transgênicos, 2007. Disponível em: https://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/deafa/qvaf/funcamp_cap12.pdf. Acessado em 05 de dezembro de 2018.
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