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Função tecnológica dos ingredientes: como fazer escolhas mais inteligentes na formulação


Na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de alimentos, saber escolher ingredientes vai muito além de sabor ou familiaridade com o produto final.


Cada ingrediente utilizado em uma formulação possui uma função tecnológica específica — ou seja, um papel técnico no comportamento físico, químico, sensorial ou microbiológico do alimento. Ignorar esse papel pode comprometer textura, estabilidade, shelf life, segurança e até a viabilidade de produção em escala.


Se você deseja desenvolver produtos alimentícios com precisão e profissionalismo, entender a função dos ingredientes é um passo fundamental. Neste artigo, vamos te mostrar como pensar a formulação com mais inteligência técnica, garantindo maior controle e assertividade no desenvolvimento.


O que é a função tecnológica de um ingrediente?

A função tecnológica refere-se ao efeito que um ingrediente exerce no produto alimentício, tanto durante o processamento quanto no consumo. Isso inclui, por exemplo:

  • Dar estrutura (ex: glúten no pão)

  • Estabilizar emulsões (ex: lecitina em maionese)

  • Prolongar a vida útil (ex: antioxidantes)

  • Melhorar textura ou viscosidade (ex: amidos modificados)

  • Conservar o alimento (ex: ácidos orgânicos, sal, açúcar)

Essas funções são reguladas por normas da ANVISA e do MAPA, que classificam e autorizam os usos de cada substância com base em sua aplicação tecnológica e segurança para o consumo.


Por que a escolha do ingrediente não pode ser “intuitiva”?

É comum, principalmente entre quem está começando a formular, escolher ingredientes com base na intuição, no hábito culinário ou simplesmente por imitação de rótulos.

Mas no contexto da indústria, cada ingrediente precisa ser tecnicamente justificado:

  • Está no alimento com a função de nutrir?

  • Ele cumpre uma função essencial na estrutura ou estabilidade?

  • Tem viabilidade de fornecimento e custo?

  • É permitido para o tipo de produto que estou desenvolvendo?

  • Responde bem ao processo térmico, pH, atividade de água, etc.?

A decisão mal embasada pode gerar formulações instáveis, com separações de fase, alterações de textura, menor shelf life ou até problemas legais.


Interações e compatibilidades: o “efeito dominó” da formulação

Ao formular, os ingredientes não agem isoladamente. A interação entre eles é determinante para o comportamento final do produto.

Exemplos:

  • A presença de açúcares pode interferir na gelatinização de amidos.

  • A acidez afeta a estabilidade de emulsões e a solubilidade de proteínas.

  • Ingredientes lipofílicos e hidrofílicos precisam de sistemas de emulsão bem ajustados.

É por isso que o formulador precisa compreender:

  • Propriedades físico-químicas básicas (solubilidade, pH, polaridade, temperatura)

  • Interações com água, lipídios, proteínas, carboidratos e fibras

  • Estabilidade térmica e reações durante o processamento

Esse conhecimento permite fazer ajustes técnicos com precisão, e não por tentativa e erro.


Função tecnológica x rotulagem: a importância da legalidade

Além de funcionar tecnicamente, o ingrediente precisa ser regulamentado corretamente. A função que ele exerce também determina como ele será declarado no rótulo.

Exemplo: Uma goma xantana usada como espessante deve ser declarada como tal, e sua concentração precisa estar dentro do limite permitido. Se for usada como estabilizante, o enquadramento e a função declarada mudam.

Por isso, o formulador precisa conhecer:

  • O papel do ingrediente dentro da legislação de aditivos alimentares

  • As resoluções que definem seus usos

  • Os limites máximos por categoria de produto

A rotulagem obrigatória em casos de função específica


Como fazer escolhas mais inteligentes na formulação

Para aplicar a função tecnológica de forma estratégica, o profissional precisa unir visão técnica, sensorial e regulatória. Abaixo, um roteiro simplificado para tomar boas decisões na formulação:

  1. Defina o objetivo tecnológico (estrutura, viscosidade, shelf life, sabor, etc.)

  2. Considere as condições do processo (calor, umidade, pH, etc.)

  3. Avalie o perfil nutricional e sensorial desejado

  4. Cheque a legislação (autorização, limites, função permitida)

  5. Consulte fornecedores confiáveis e laudos técnicos

  6. Realize testes com diferentes combinações e níveis

  7. Documente os resultados e analise a estabilidade ao longo do tempo



Conclusão

A inteligência na formulação começa no domínio da função tecnológica dos ingredientes. Esse é um dos pilares para criar produtos estáveis, seguros e viáveis na prática industrial.

Para quem deseja atuar com desenvolvimento de produtos, esse não é mais um conhecimento “diferencial” — é essencial.

É esse domínio técnico que transforma uma receita em um produto formulado profissionalmente, pronto para enfrentar as exigências do mercado e dos órgãos reguladores.

Na FoodTech School, valorizamos o conhecimento técnico aplicado. Nossos conteúdos são criados com base em experiências reais de quem desenvolve produtos todos os dias, em indústrias, startups e consultorias.

Se você quer evoluir sua capacidade de formular com confiança, técnica e visão de mercado, continue acompanhando nossos conteúdos — eles foram feitos para profissionais como você.


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Data: 30/05/2025

Autora: Camila Salgado







 
 
 

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