O surgimento de Epidemias e sua relação com a Higiene
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O surgimento de Epidemias e sua relação com a Higiene

12:16, 15 de abril de 2020, para consumidores e cientistas.


Desde a antiguidade, a humanidade tem sido assolada por diversas doenças contagiosas. Algumas tão letais e transmissíveis que em pouco tempo ceifaram a vida de milhares, e em alguns casos, milhões de pessoas. É fato que o surgimento, a forma de disseminação, a identidade e natureza dos causadores de muitas dessas doenças só foi identificada muitos séculos depois, com o advento da ciência e principalmente, de uma área específica do conhecimento: a microbiologia. A ciência não ajudou somente na identificação dos agentes causadores e na forma de combatê-los, mas também em como prevenir o contágio, e por meio de práticas eficazes e sobretudo, simples e baratas. Estamos falando de simples práticas de higiene. Tanto higiene pessoal, quanto a higiene e asseio com alimentos, objetos e ambientes. Parece inacreditável, mas a grande verdade é que simples práticas de higiene adequada poderiam ter reduzido grandemente o número de baixas em diversas epidemias e pandemias que atingiram os seres humanos ao longo da história. Entretanto, para o grande infortúnio de nossa espécie, a teoria por trás de tais práticas só foi reconhecida como verdadeira, aceita e aplicada, inclusive pelos governos e autoridades, entre os séculos XIX e XX. Veja a seguir algumas das pandemias e epidemias cuja disseminação e contágio foi principalmente associado, entre outros fatores, à falta de higiene.


Peste Negra

A peste negra, também conhecida como peste bubônica, foi uma das mais devastadoras pandemias que atingiu a humanidade entre os séculos XIV e XVII, e levou à morte entre 75 a 200 milhões de pessoas nesse período. Naquela época, acreditava-se que a doença era causada e se espalhava por meio de um “mau ar” exalado pelos corpos das vítimas. Hoje sabe-se que o agente causador desta doença é uma bactéria conhecida como Yersinia pestis, a qual era transmitida aos humanos por meio de picadas de pulgas que habitavam roedores (ratos), os quais conviviam com as pessoas nas antigas cidadelas da Europa. Ratos, piolhos e pulgas infestavam as imundas cidades daquela época, desprovidas de qualquer tipo de saneamento. As péssimas práticas de higiene pessoal, associada à falta de recursos por parte da maioria da população também levaram ao rápido espalhamento da doença e ao retorno da mesma em diversas períodos de tempo.


Pandemia de Cólera

A primeira pandemia de cólera foi registrada entre 1817 e 1824, tendo se originado na Índia e se espalhado pelo Sudeste asiático até a costa mediterrânea. Estima-se que tenha levado à óbito entre 1 a 2 milhões de pessoas durante o período mencionado. A cólera é causada por bactérias da espécie Vibrio cholerae e é transmitida aos humanos por meio de água e de alimentos contaminados com fezes humanas contendo o microrganismo. Produtos marinhos, como vieiras e mexilhões por exemplo, mal-higienizados e mal-cozidos são uma das principais fontes da cólera.



Gripe Espanhola (Influenza)

A gripe espanhola foi uma forma de gripe letal causada pelo influenzavirus H1N1 que em apenas dois anos (1918 - 1920) levou à óbito cerca de 17 a 50 milhões de pessoas em todo o mundo. A gripe espanhola acometeu vítimas de forma incomumente letal, de acordo com o que é esperado para infecções causadas por influenzavirus. A doença vitimou principalmente os muito jovens e os mais idosos; sua transmissão foi frequentemente relatada em acampamentos militares e hospitais superlotados. Segundo diversas pesquisas, estirpes do vírus se originaram em aves e porcos utilizados como alimentos para as tropas militares durante a Primeira Guerra Mundial. Outros fatores, como superaglomeração em acampamentos, contato direto com animais (porcos e aves), precárias práticas de higiene, subnutrição e baixa qualidade de vida nos campos de batalha contribuíram para a proliferação e extrema virulência da doença.


Febre Hemorrágica Ebola

A Febre hemorrágica ebola ou simplesmente ebola, é uma doença provocada pelo ebolavirus, primeiramente identificado em 1976 em um vilarejo próximo ao rio Ebola, localizado na República democrática do Congo, África. Diversos surtos ocorreram entre 1976 e 2019, sendo a epidemia ocorrida entre 2013 e 2016 a mais severa já registrada, com aproximadamente 11.300 óbitos confirmados na região da África subsaariana. A transmissão do vírus está associada ao contato com fluidos corporais da vítima infectada, como fezes, urina, vômito, sangue e saliva. O ebola é inoculado em um indivíduo sadio por meio das mucosas nasal, oral, olhos, cortes e pequenas feridas expostas. O contato direto com fluidos corporais exacerba-se quando o paciente infectado manifesta os profusos sangramentos internos e externos, característicos da evolução da doença. Segundo dados da OMS, 69% dos casos de infecção registrados em 2014 na Guiné e Serra Leoa, foram associados ao contato direto (sem proteção ou adequada higienização) de pessoas com cadáveres das vítimas infectadas, durante rituais fúnebres tipicamente praticados nestes países. Devido à sua alta transmissibilidade, médicos e enfermeiros em contato direto com pacientes infectados devem utilizar máscaras de proteção e outros equipamentos, além de lavar as mãos com água e sabão constantemente.


Diversos outros exemplos de doenças cuja transmissão é facilitada por más práticas de higiene e falta de saneamento poderiam ser citadas, inclusive à epidemia de Coronavírus (COVID-19) que atravessamos neste momento. A atual pandemia leva à uma reflexão crítica sobre a conscientização das sociedades por parte das práticas e hábitos de higienização pessoal, asseio com a limpeza e desinfecção de ambientes, objetos, alimentos e outros possíveis carreadores de doenças.

Aprender com ou repetir a História, não é apenas uma grande demonstração de quão realmente somos evoluídos em termos de ciência e tecnologia, mas também de quão grande é nossa civilidade perante os nossos iguais.


Autor: Rafael Cavalcante 
Pesquisador Assistente na LABCOM-UFRJ 
Mestre em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos na UFRJ Engenheiro de Alimentos na UFRRJ

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